sábado, 15 de janeiro de 2011

Caminhando

              O caminho é longo!
        É preciso chegar até o fim.
          O caminho é pedregoso!
       É preciso desviar das pedras,
  Quebrar as rochas e seguir avante.
           O caminho é perigoso!
É preciso ter coragem, correr os riscos, 
   Enfrentar o perigo e ser constante.
           O caminho não está feito!
      É preciso construí-lo todos os dias,
Arrancando espinhos, derrubando barreiras, 
 Aterrando vales, vencendo os obstáculos.
         O caminho, às vezes, escurece!
             É preciso estar prevenido, 
Não deixando nunca a lâmpada sem azeite, 
Estar preparado para tudo o que acontece.
              Às vezes chove, faz frio 
E o vento sibila furiosamente entre a selva.
    Às vezes o sol queima, a sede devora. 
               É preciso uma sombra, 
    Uma fonte aonde a gente se revigore.
           Às vezes toda a perspectiva 
           De um caminho desaparece!
É preciso uma esperança profunda, sem limite;
       Uma esperança que nunca desvanece.
             A certeza de que alguém falou 
                E sua palavra nunca falha.
A certeza de que não estamos sós nesta jornada, 
  Mas somos um povo construindo sua estrada,
                     Rumo ao mesmo fim,
  Onde a promessa se cumprirá plenamente.
  Onde não haverá mais chuva, frio, trevas.
Constrói este caminho, dia-a-dia, em rocha firme.
                 É preciso coragem para ser.
 Coragem para assumir o risco de ser homem,
                        O risco de viver,
         O risco de construir o caminho,
                        O risco de SER!
          Coragem para derrubar as barreiras
Do ódio, da violência, da injustiça, da opressão.
                   Coragem para dinamitar
As rochas do egoísmo, da miséria, da escravidão.
     Coragem para construir um caminho novo,
                    Um caminho único,
       Onde tu possas ser tu, eu possa ser eu,
      Ele possa ser ele, nós possamos ser nós,
      Para que tu, ele e eu possamos ser mais
                              De DEUS.

sábado, 1 de janeiro de 2011

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.


Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.


O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.


O bicho, meu Deus, era um homem.

                                                                                                                                 
                                                                                                      Manuel Bandeira

Rio, 27 de dezembro de 1947